Poleamor ♥

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Eu nem sei dizer como o Pole entrou na minha vida - de onde eu tirei essa ideia doida de que queria fazer aulas. Nunca tinha conhecido ninguém que fazia, nem sabia direito se realmente existiam lugares. Mas, depois de umas pesquisas no Google marquei minha primeira aula experimental. Eu nunca fui chegada em exercícios, esporte só futebol pela televisão, então comprei aquelas roupinhas de ginástica e fui lá conhecer. A primeira aula foi estranha, muitos não acreditam mas sou bastante tímida, principalmente fazendo coisas que não conheço e entre desconhecidos. Mas bom, foi amor a primeira vista, primeira escalada, primeiro roxo - e daí pra frente foram muitos e muitos.

Nesse primeiro estúdio, fiz aulas por um mês. Não lembro de ter tido grandes dificuldades, mas ficava boba de ver o que as pessoas conseguiam fazer com os próprios corpos e queria muito desafiar a gravidade daquela maneira. Porém, as coisas estavam difíceis, eu levava duas horas de ônibus pra chegar às aulas e isso me desanimava bastante, minhas colegas eram bem diferentes de mim, não muito amistosas, nem as professoras. Eu era uma mineira morando sozinha em SP, buscando lugares onde talvez pudesse fazer novos amigos e pensei no pole como uma opção pra isso também, mas depois de ouvir um comentário lesbofóbico dentro do vestiário daquele estúdio eu só terminei o mês e não voltei mais. 

Minha rotina na terra da garoa ficou impraticável - então voltei pra BH, aqui, procurei de novo pelo pole, marquei mais uma aula experimental. Ia tudo muito bem, o estúdio era lindo, as barras super altas, as colegas pareciam legais. Porém, era uma academia "para mulheres", e me incomodou quando um homem foi subir perto da sala pra fazer algum serviço e todas ficaram loucas tipo "fechem a porta; não saiam, tem um homem aqui fora!" - não curti, achei estranho essa coisa tão "velada". No final da aula fui conversar com a professora e descobri que ela era colega de faculdade de uma amiga minha, achei super legal até que ela disse algo como "Pode contar pra ela, mas fala pra ela não contar pra mais ninguém, porque pole você sabe, né?", e eu fiquei muito bolada com aquilo. Eu entendo que pra quem está num curso de exatas com maioria esmagadora de homens, deve ser foda... viver, mas super não curti esse posicionamento de "vergonha" do pole. Não voltei a fazer aula ali também.

Passados os dois primeiros traumas - que foram bem complicados, principalmente devido às minhas ideologias, pelo menos não sinto que me traí e hoje só me arrependo de não ter enfrentado isso ao invés de simplesmente desistir das aulas nessas duas vezes. Mas, bom, finalmente achei um lugar que não tive problemas e onde começou pra valer minha trajetória no pole. A Naiara Beleza foi minha primeira professora, uma pessoa incrível, que se tornou minha amiga, uma inspiração. A Nai foi basicamente quem inseriu o Pole aqui em BH, quem fez ele ficar popular, que batalhou contra os preconceitos existentes. Fui conhecendo mais e mais pessoas desse mundo que só crescia, treinei depois com a Gerdi Martins e por fim fui pro estúdio da Babi Bowie, onde de repente me vi dando aulas.



De repente mais ou menos, fazem dois anos que comecei na Naiara, de tempo de treino tem um pouco menos, porque parei e voltei duas vezes, e isso de perder o pique de treino ferra um pouco com tudo; deve ter pouco mais de um ano e meio, se for contar o tempo que realmente treinei pra valer. O que vivi e ainda vivo com o pole são coisas indescritíveis, vem de dentro mesmo, é amor. Dos primeiros giros desengonçados, dos muitos e muitos roxos - que hoje diminuíram mas não vão acabar nunca, das primeiras inversões, da força, equilíbrio e coragem que às vezes vacila - mas uma hora ela vem e você nem acredita no que acabou de fazer. Às vezes acontece assim, no susto, ou uma dica, uma seguradinha a mais ali e voilà. Por ser praticado individualmente, só depende de você - e isso é frustrante e desafiador ao mesmo tempo. Desafios, eu curto desafios. Eu faço apostas comigo mesma e me divirto mesmo que muita coisa seja sofrida, compensa cada dor.

Outra coisa que aprendi no pole foi a aceitar o meu corpo - e a não julgar o corpo das outras mulheres. Desde pequenas somos acostumadas a achar isso ou aquilo de corpos ‘fora do padrão’ e bom, eu não fugia disso. No pole, por usarmos pouca roupa, vemos o tempo todo a diversidade de corpos, assim como a diversidade de pessoas. Uma barriguinha a mais ou a menos não faz diferença ali, suas estrias ou pêlos não vão te deixar melhor ou pior. Você fica ali se encarando em posições totalmente novas, num espelho, com pouca roupa - não tem como: eu super acredito que no pole você passa a aceitar seu corpo como ele é, a não ver problemas nele o tempo todo. Você perde a vergonha que nos é ensinada desde sempre a ter dele, você não liga de se esticar e abrir as pernas de um jeito que deixaria os mais conservadores loucos, afinal "mocinhas não fazem aquilo". 

Acho que esse vai acabar sendo um texto introdutório sobre um assunto que vai aparecer mais vezes por aqui - um post não é o suficiente pra englobar tudo que eu acredito que vem junto com o pole e todo o aprendizado que eu tive com ele. Mas finalizando, não posso deixar de agradecer a todas as colegas e aos colegas que tive, às lindas e inspiradoras professoras e às minhas super amadas alunas, todos que fizeram e fazem parte dessa trajetória do qual espero estar apenas no começo. 




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