Hoje em dia virou mais do que piada comentar a respeito da "gourmetização" da comida brasileira, sobre como aquele cachorro quente da carrocinha da esquina da sua casa, que antes custava R$ 3,00 e vinha "completão", hoje custa mais de R$ 9,00 e virou foodtruck, quando muita gente nem sabe o que este termo significa e porque isso hoje em dia é moda. Mas até que ponto é ruim ver este tipo de mudança nos nossos lanches do dia a dia? Será que é tão ruim assim comprar um produto com mais qualidade e facilidade do que durante nossa infância? É claro que falar mal é fácil, é comum no ser humano fazer piada/ridicularizar aquilo que é incomum aos seus costumes e também àquilo que ele não compreende bem.
Gourmet - segundo nossa melhor amiga, a Wikipédia - é "um ideal cultural associado com a arte culinária da boa comida e bebida, de haute cuisine (alta cozinha). Assim, um vinho ou um restaurante diz-se gourmet quando este é de alta qualidade e está reservado a paladares mais avançados e a experiências gastronômicas mais elaboradas." Boa comida e alta qualidade são palavras que podem atrair a qualquer um, então, porquê a "gourmetização" é tão mal vista e virou alvo de piada?
Eu diria que podemos culpar, em parte, o fato de que infelizmente é comum entre os brasileiros menosprezar tudo o que é brasileiro, ou a versão brasileira de algo estrangeiro, neste caso, europeu. Somos acostumados a ouvir e a ler que na Europa a comida de alta qualidade é servida em pequenos restaurantes, ou até mesmo em casas de família, que abrem suas portas para pequenos jantares, e quando aqui no Brasil vimos o "gourmet" sendo apresentado em restaurantes de menor porte do que o DOM ou outro, agimos como se fosse algo errado, simplesmente porque consideramos que nossa gastronomia, nossos pratos típicos, nossos Chefs e cozinheiros não podem trabalhar com algo assim.
Sou formada em Gastronomia e trabalho na área, e percebo que entre colegas de profissão, a visão sobre esta nova moda é totalmente diferente da visão do público "alvo". O fato de que podemos sim encontrar no nosso próprio bairro pequenos espaços dedicados aos amantes de boa comida, com boa decoração, boa música e bom atendimento, mostra à todos nós que valeu a pena estudar, e que vamos trabalhar em um país que está aceitando aqueles pratos que aprendemos na faculdade, que antes nos faziam pensar "bom, se algum dia eu trabalhar na França, vou usar este conhecimento".
A comida gourmet brasileira tomou a indústria alimentícia para mostrar que nossos pratos são dignos do título, que nossa feijoada merece a atenção que recebe, se for feita com qualidade, e que podemos comer naquele carrinho de cachorro quente da esquina sem medo do dia seguinte, porque conhecemos o que vai dentro dele, e isso não pode ser ruim.
É claro que existem aqueles restaurantes que vão se chamar de "gourmet", quando na verdade só trocaram o queijo prato por parmesão, mas assim como conhecemos atores que não atuam, cantores que não cantam e administradores que não administram - em uma escolha aleatória de exemplos - precisamos saber diferenciar o verdadeiro do que está se aproveitando da moda, mas não devemos parar de acreditar em atores, cantores e administradores por causa dos errados, obviamente, e podemos sim fazer isso com o restaurante gourmet, aonde escolhemos passar o aniversário de namoro ou só o jantar de sexta feira.
De uma confeiteira que passa horas por dia mexendo panelas de brigadeiro gourmet feitos com chocolate belga e pistache, o pedido é de que vejam nossos estabelecimentos com mais carinho e menos preconceito. De uma brasileira, o pedido é de que se pare de achar que só "o estrangeiro" sabe criar e produzir qualquer coisa. E viva ao "raio gourmetizador", que trouxe as melhores coisas que já provei na vida para restaurantes onde posso ir , sem comprar uma passagem de avião.
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