Olhares de Alba

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Parte 1

Alba tinha 10 anos quando pisou no pátio de sua nova escola. Uma escola privada e de freiras. Sempre estudou em colégios privados, mas nunca de freiras; não sabia o que achar disso. Apenas esperava que não fosse como nos velhos tempos em que eram tão rígidas que davam reguada nas mãos de quem não obedecia.

Acostumada a mudanças desde muito pequena, sempre via as novidades com empolgação. Lembra quando foi comprar o uniforme, visitou a escola e até mesmo quando mudou para esta nova cidade, em um lindo e grande apartamento. E o melhor de tudo: sua escola era na mesma rua em que morava!

Primeiro dia de aula, um frio gostoso na barriga, uma curiosidade de descobrir! Naquele ano iria estudar à tarde, mesmo que sempre tivesse sido o contrário. Parecia-lhe muito agradável não levantar-se às 7 da manhã ou antes. Foi tomar banho enquanto sua mãe preparava o almoço. Lembra da sensação gostosa de ir para a escola de cabelos molhados, o cheiro do shampoo invadindo sua felicidade. Entrou na fila que formavam para cantar o hino nacional, para rezar e depois cantar o hino da escola, que lhe parecia feio e estridente. Mas tudo bem. Enquanto isso acontecia ela se distraia olhando as bonitas árvores do pátio, sorria sozinha ao ver as caras novas que poderiam ser seus novos amigos.

O pátio onde formavam fila era o mesmo que tinha um enorme palco de teatro. Parecia-lhe muito alto também, mas talvez fosse apenas por ela ser pequena. Ninguém usava-o no momento, mas ela já se imaginava ali se apresentando - sempre gostou muito de teatro, apesar de ser tímida.

Até aquele momento, quando Alba se olhava no espelho, via-se como uma menina normal. Dois braços, duas pernas, um rosto fino, comprido, olhos castanhos, cabelos longos e sutilmente cacheados. Para falar a verdade, via-se como alguém que sonha em ser atriz e modelo. Encenava sozinha diante de espelho, dançava também, recordando como as professoras de ballet a ensinavam a posicionar a mão. Pés em ponta para cá, pirueta para lá. Gostava de si. Divertía-se.

Não sabia que ao pisar na nova sala de aula depois de toda aquela abertura pomposa no pátio tudo mudaria. Forçariam seus olhos inocentes e brilhantes a um mundo cheio de questionamentos e divisões. E a um mundo que tenta forçá-la a encontrar sozinha a resposta do que é verdade, mentira, culpa e vergonha.

Continua...

Fonte: NYTimes

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