As 13 Lições Essenciais do Usuário de Transporte Público Feliz - se é que é possível ser feliz usando transporte público no Brasil

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Todo mundo que depende de transporte público sabe que - pelo menos no Brasil - a coisa não é fácil. Poucas linhas, poucos horários, poucas opções, pouco espaço; e isso para ser dividido entre muita, muita gente. E aí tem o trânsito. E aí tem a chuva. E aí tem o fato de que um trajeto que, de carro, seria feito em vinte minutos, consegue levar espantosas duas horas quando você precisa perder tempo com filas e baldeações. E aí tem você, em pé dentro do ônibus, do trem, do metrô, rezando para que alguém que estiver sentado pelo menos se ofereça para carregar aquela mochila pesada que você sustentou nas costas o dia inteiro, olhando pela janela - se der para enxergar a janela ou algo fora dela, é claro - e sonhando com um carro para chamar de seu. É. Eu sinto a sua dor.

Mas é fato que tem outra coisa que torna as coisas muito piores: as pessoas. Não, eu não estou nem falando de falta de educação - porque é óbvio que furar a fila, por exemplo, é errado e sem-noção. Eu estou falando de falta de... Skills. Enquanto se move agilmente pelos terminais e estações e facilita sua própria vida (e a de todo mundo), você se pergunta por quê, meu Deus, POR QUE as pessoas se mexem tão devagar. Por que elas não olham para onde estão andando, para evitar trombadas. Por que elas não manjam que ficar sentado na escada do ônibus é okay, mas que, se alguém quiser descer, elas tem que levantar para dar espaço para a pessoa - porque ninguém, até onde sabemos, sabe voar. Tem gente que não sabe usar transporte público. Para andar de ônibus (ou metrô ou trem ou barca ou bondinho), devia ser obrigatório fazer um curso e tirar uma licença prévia - tipo carteira de motorista, sabe? Parabéns, você desenvolveu suas skills de passageiro de ônibus, pode embarcar. Não, você reprovou porque deixou para catar suas moedinhas dentro da bolsa só na hora em que parou na frente do cobrador e atrasou a vida de todo mundo, pode ir a pé.


Pensando nisso, apresentamos as 13 Lições Essenciais do Usuário de Transporte Público Feliz. Esperando que, um dia, se todos aprenderem - e botarem em prática - essas lições, nós possamos todos, realmente, ser felizes dentro de um ônibus.

1 - Lugar para passear é no shopping. Seja rápido na hora de entrar no ônibus. E sair dele. Tem mais gente atrás de você, tentando fazer a mesma coisa.


2 - Sua mãe não ensinou que, na hora de entrar em um elevador, você antes deixa as pessoas que estão dentro dele saírem? No ônibus vale a mesma regra. Nada mais irritante do que gente que tenta ir contra o fluxo e se enfiar porta adentro enquanto ainda tem gente saindo. (e, depois que a galera sair, é que você segue a Lição 1, okay?)


3 - Antes de entrar no ônibus, pegue seu cartão, seu dinheiro, cate suas moedinhas. Não deixe para fazer isso quando parar na catraca. Tanto o cobrador quanto a fila de gente atrás de você vão estar querendo sua cabeça numa bandeja.


4 - Não se espalhe. Sentado na janela ou no corredor, tente, na medida do possível, ficar no seu banco: mochila, bolsas e sacolas no colo; braços e pernas fechados. Não, bonitão, essas suas pernas abertas não te deixam com uma pose de machão bem dotado. Não.


5 - Aliás, sobre bolsas e sacolas: tire a sua do ombro antes de sentar ao lado de outra pessoa, e não só depois - depois de já ter dado uma porrada no seu colega de banco e quase colocado suas coisas no colo dele. Não é tão difícil assim, vai.


6 - Sem querer comparar seu bebê com uma bolsa ou uma sacola, mas já comparando - as mesmas regras valem para ele. Okay, a gente imagina que não deve ser fácil ter um bebê de colo como adicional à toda dificuldade que já é andar de transporte público. Mas isso não dá a ninguém o direito de colocar as pernas da criança no colo do vizinho, ou deixar que ela fique chutando a perna da pessoa ao lado. Por favor. E, só para deixar claro: lugar de bebê é no colo. Não no banco ao seu lado, ocupando o espaço em que outra pessoa poderia perfeitamente estar sentada.


7 - Se estiver em pé, tire a mochila das costas. Se ninguém se oferecer para carregá-la, sempre há o chão - e não, sua mochila não vai ficar tão terrivelmente suja por causa disso. Facilita a circulação dos coleguinhas, e evita mochiladas na cara de quem estiver sentado.


8 - Mesmo se não houver mais lugar para sentar quando você entrar no ônibus - e ele parecer um pouco cheio -, não empaque, em hipótese alguma, logo depois da catraca. Muita gente quer passar por aí, amigo. Vá para o fundo do ônibus, o máximo que conseguir. Vai ser bom pra você: normalmente, é mais vazio lá atrás (porque, aparentemente, ninguém segue essa Lição).


9 - É perfeitamente aceitável ficar sentado nas escadas em frente às portas - desde que você esteja disposto a se levantar toda vez que alguém quiser descer. Ficar parado no lugar, olhando com cara de paisagem para a pessoa que está tendo que fazer malabarismo para sair do ônibus, é pedir para levar um empurrão no processo.


10 - A lateral dos bancos não é apoio para as costas. Eu sei que é cansativo ficar em pé. É chato. Mas, se você se apoiar na lateral do banco, vai se apoiar automaticamente na pessoa que está sentada no banco. Ninguém merece, né?


11 - Essa é pior que a briga a respeito do ar-condicionado no escritório da empresa. Claro que é sempre legal perguntar a opinião do vizinho e chegar a uma decisão democrática - mas quem está sentado ao lado da janela é quem vai levar vento (e chuva) na cara caso ela esteja aberta. Então a decisão final é dele. Deu de discussão.


12 - Isso vale para praticamente qualquer ocasião, mas, especialmente no transporte coletivo, onde tem muita gente dividindo pouco espaço, não custa lembrar: não precisa conversar com seu vizinho de banco como se ele estivesse do outro lado do ônibus (e, bom, se ele estiver, esperamos que vocês não conversem, por favor). Ninguém quer ouvir você falar aos berros sobre a sua vida. Se for antes das oito da manhã, então, pior ainda.


13 - Pra fechar, e na mesma linha do anterior: mesmo se você estiver ouvindo a minha música favorita (e vamos combinar que isso nunca acontece), eu posso não querer ouvir aquela música exatamente naquele momento. Parece óbvio, mas não custa lembrar: use fones de ouvido.


Quem sabe um dia, seja possível usar o transporte público sem querer morrer - e nem matar ninguém no caminho.



PS: Esse post foi escrito em parceria com Rafaela Martini Lopes, minha irmã, parceira de ônibus às seis e meia da manhã. <3

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