Por isso, não é espanto como cientistas começaram a criar
argumentos para condenar a masturbação que a religião tanto já abominava. Usando
o termo religioso, o Dr. Balthazar Bekker lança em 1716 o panfleto: "Onania,
ou o hediondo pecado da auto-poluição e todas as suas assustadoras consequências,
em ambos os sexos, considerado: Com aconselhamento espiritual e físico para
aqueles que já feriram à si mesmos com essa prática abominável".
E além deste título pequeno, vinha uma lista bem abrangente dos males
que poderiam causar àqueles que se masturbavam, como problemas estomacais - que podiam variar da perda de apetite ou fome voraz -, além de náuseas, vômitos, tosse, rouquidão,
impotência, falta de libido, magreza, palidez, espinhas, perda de memória,
ataques de raiva, epilepsia, febre, burrice e até suicídio. Ou seja, se você tivesse alguma destas coisas, obviamente era porque se masturbara.
Outros cientistas confirmaram isso anos depois, como o médico
inglês Robert James no livro "A Medicinal Dictionary" de 1743; o suíço Samuel-Auguste
Tissot no "L'Onanisme" de 1760; e o
americano Benjamin Rush num capítulo de "Of the Morbid State of the
Sexual Appetite", de 1812. Poderia ficar relatando livros e tratados que
condenavam totalmente a masturbação, ou condenando quem fazia ou mostrando as "assustadoras
consequências", por horas. Até filósofos como Kant
e Rousseau decorreram como o ato era prejudicial.
Não seria de se espantar que os governos, até então embasados com essas
evidências científicas, tentassem proteger seus cidadãos. E uma forma era punir o ato para que ninguém fosse prejudicado. Por exemplo, no estado de Connecticut, nos EUA, durante o século XVII, era
condenado à morte quem se masturbava. Na Inglaterra, as calças dos meninos eram costuradas
de uma forma que eles não conseguissem tocar o pênis pelo bolso. Vários
lugares proibiram meninas de andar de bicicleta ou a cavalo justamente porque
induzia a masturbação.
O Dr John Harvey Kellogg, um americano e grande opositor
da masturbação, defendia cirurgias para masturbadores, como circuncisão sem anestesia nos meninos, e aplicação de ácido no clitóris das meninas. Além disso,
acreditava que uma alimentação mais leve, sem carne, poderia acalmar esses
desejos nos jovens, por isso inventou o sucrilho de milho em 1906 (isso mesmo,
a empresa do tigre Tony é deste cara).
Esse grande tabu obviamente chegou ao Brasil, tanto que é conhecido
o relato do médico João da Matta Machado, em 1875, de que a masturbação devia ser combatida
nos internatos de Minas Gerais, e um jeito eficiente era deixar sempre um aluno
em vigília enquanto os outros dormiam. Caso ele pegasse alguém em flagrante, acordaria todos e daria um sermão pela prática imunda, para que
depois o masturbador sofresse escárnio de seus colegas.
Muitos jovens e adultos de ambos os sexos foram levados para
sanatórios, eletrocutados, mutilados, usaram cintas de castidades e outros
acessórios incômodos, sofreram humilhações e foram punidos por serem pegos
realizando o ato do prazer solitário. Felizmente, isso começaria a mudar no
século XX.
Referência para leituras:
Referência para leituras:
Vejam um exemplo destas escritas científicas sobre a masturbação, o "Le Livre Sans Titre" - Leia aqui.
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