No Brasil, muita gente não vive sem o famoso cafezinho - na hora de acordar, logo depois do almoço, no meio da tarde. Eu nunca gostei. Claro, gosto é gosto - mas café não me desce, a não ser acompanhado de muito leite (e um pouquinho de açúcar, vai). Minha escolha, em qualquer hora do dia ou da noite, sempre foi o chá - pelo qual eu sou apaixonada. <3 Adoro descobrir novos tipos, experimentar novos sabores. Encontrar uma nova loja de chás e acessórios, então, faz minha felicidade por semanas. Claro que eu comecei naquelas: tomando o "chá" de hortelã, de erva-doce ou de erva-cidreira que minha mãe colhia na hortinha de casa e preparava antes de me colocar para dormir. Mas com o tempo eu fui lendo, me informando, experimentando, descobrindo. E hoje não sou só uma adoradora do chá pelo seu sabor, mas também pela tradição. Pela sua história, pelo costume. E aprendi muita coisa interessante.
Para começar, sabia que o chá é a segunda bebida mais consumida do mundo? E só perde mesmo para a água - o café fica em terceiro lugar. Claro que, vivendo no Brasil, país onde o café é paixão e orgulho nacional, é difícil perceber isso. Mas é só lembrar que a China e a Índia, dois dos maiores e mais populosos países do mundo, são também lugares onde todo mundo toma chá - e aí essa informação faz muito mais sentido.
Em segundo lugar: chá é só aquele preparado através da infusão das folhas, flores e raízes da Camellia sinensis, a "planta do chá". Aqui no Brasil, e também em Portugal, estamos acostumados a usar a palavra "chá" como sinônimo de qualquer infusão de frutos, raízes, flores e folhas; principalmente de ervas, como os que eu citei ali em cima: hortelã, erva-doce, erva-cidreira, camomila, ou até maçã, canela, e tantas, tantas outras. Mas o certo mesmo é chamar tudo isso de infusão: chá mesmo, só de Camellia sinensis, uma planta de origem chinesa e indiana - parente da nossa camélia, aquela que dá flores. O que diferencia o chá preto do verde e do branco, por exemplo, não é a planta, mas o modo de preparação. Muitos chás, aliás, utilizam infusões na receita, para fazer novas combinações e criar novos sabores - e fica uma delícia. <3
Os métodos mais comuns de colheita e preparação do chá chegaram até nós através dos portugueses, que foram os primeiros europeus a ter contato com os japoneses, em 1543 - e, claro, foram os orientais que inventaram essa história (tem alguma coisa que eles não inventaram?). As lendas chinesas dizem que o primeiro imperador a beber chá viveu lá em 2737 a.C.; mas o que sabemos mesmo é que, no ano de 805, o Japão já cultivava a Camellia sinensis com o objetivo de produzir a bebida. Na Europa, o chá se tornou popular muito rápido, principalmente entre as classes mais ricas da França e dos Países Baixos - e, depois, na Inglaterra, onde, dizem, a princesa portuguesa Catarina de Bragança, que se casou com Carlos II da Inglaterra, introduziu o costume. A princesa gostava tanto de chás (mulher de bom gosto, essa) que promovia "tea parties", onde a bebida era consumida. Já a tradição do chá da tarde - o famoso "five o'clock tea" - foi criada pela sétima Duquesa de Bedford, no início do século XIX; e hoje em dia os ingleses usam a expressão para a refeição feita no final da tarde, mesmo se você não consumir, obrigatoriamente, chá. No Brasil, a bebida chegou em 1812, com o plantio das primeiras mudas de chá no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. E o chá em saquinhos, como estamos acostumados a comprar no supermercado, só surgiu em 1904, inventado pelos norte-americanos - embora os infusores sejam usados até hoje, como método favorito dos experts no assunto.
Mesmo que na Inglaterra e na maioria dos outros países ocidentais o chá tenha ganhado popularidade como "bebida social", por assim dizer, em seus países de origem, como China, Japão e Índia, ele é tradicionalmente consumido como uma bebida benéfica para a saúde - e até mesmo como algo sagrado, ritualístico. A famosa cerimônia do chá japonesa tem influências do taoísmo e do zen budismo: durante a cerimônia, que pode durar até quatro horas, o chá verde em pó (chamado de matcha) é preparado ritualisticamente e servido aos convidados. O praticante da cerimônia precisa ter um grande conhecimento das artes tradicionais que fazem parte do ritual, incluindo, claro, o cultivo e as variedades do chá - mas também etiqueta, cerâmica, uso de incensos, arranjo de flores, vestes tradicionais japonesas e até de caligrafia. Mesmo para participar como convidado é preciso conhecer os gestos e frases pré-definidos, a maneira de se comportar na sala de chá, e como se servir da bebida da maneira certa, para não fazer feio. Pois é - é um ritual, gente, não um five o'clock tea inglês.
Entre os benefícios do chá estão o fortalecimento do sistema imunológico, por exemplo, o fornecimento de componentes antioxidantes - que previnem o envelhecimento das células -, a melhora da digestão e o aumento da atividade metabólica, o que queima calorias e ajuda a emagrecer. Mas cuidado: o chá tem cafeína, alguns deles quase tanto quanto o café, e pode causar insônia dependendo da quantidade - ou do horário - em que for ingerido. Todos os tipos de chá possuem mais ou menos as mesmas substâncias, mas em concentrações diferentes - resultado dos diversos métodos de preparação -, então é bom pesquisar e procurar aquele mais adequado às suas necessidades. :)
Bom, meu plano inicial era escrever um texto sobre chá aqui no blog - mas aí eu comecei e percebi que, se eu for falar tudo o que é interessante falar, vou escrever um livro. Então, no próximo texto da série, eu falo sobre os tipos de chá - como cada um é preparado, os benefícios e características de cada um, e dicas de como deixar o seu mais gostoso. <3
Btw, esse texto foi escrito enquanto eu bebia um English Breakfast - que, apesar do nome, que nos lembra "café-da-manhã", é um dos meus favoritos para tomar depois do almoço: bem forte, ele é um blend de vários tipos de chá preto, e dá uma acordada daquelas - tipo café, mesmo. Como diz o nome, é um dos mais tradicionais entre os ingleses. ;)
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